Confira texto Super emocionante e Revelador da Gaía Passarelli, sobre a MTV!

/
0 Comments

A ex-VJ da MTV, Gaía Passarelli publicou em seu blog um texto sobre sua passagem pela emissora, quando ainda era administrada pelo Grupo Abril, ao qual ela diz ter "sobrevivido" aos dias exaustivos e emocionantes da Music Television Brasil.
Confira o texto na íntegra abaixo:

Minha Vida de VJ (Gaía Passarelli)

1. As pessoas adoram VJs. Quando fui trabalhar na MTV Brasil, em 2010, eu não era a audiência do canal. Pelo contrário. Era uma crítica musical de 30 anos, com filho em idade escolar, morando em Cotia. Mas o canal decidiu que precisava de um programa de novidades musicais alternativas, fiz um teste e fui aceita. Aceitei o emprego porque a proposta de escolher videoclipes que passam na TV eram boas demais pra deixar passar. E fiquei surpresa ao perceber o quanto as pessoas se importavam com os apresentadores da MTV - os chamados VJs. Adolescentes iam na porta da emissora pedir autógrafo e tirar selfies, mandavam presentes, faziam fã-clubes virtuais. É como ser repórter e estrela do rock ao mesmo tempo.

2. Ninguém liga pro seu gosto musical cult. Meu primeiro programa na MTV Brasil passava nas noites de sábado, chamado Goo (como o disco do Sonic Youth) e era dedicado à novidades musicais. Entre os favoritos estavam Das Rascist, Zola Jesus e Die Antwoord. Eu sonhava em colocar no ar vídeos experimentais de música instrumental com sete minutos de duração, tipo Explosions in The Sky. A ideia de mostrar coisas ultra-alternativas e interessantes era empolgante e fadada ao fracasso. O Goo foi cancelado antes de completar um ano de vida e eu tive que me engolir o fato que as pessoas querem ouvir no mundo real é Maroon 5 e Katy Perry.

3. Não dá pra ter tudo. Sabe quando você compra ingresso praquele festival bacana e daí divulgam os horários e você tem que decidir qual das suas duas bandas favoritas você não vai ver porque elas tocam ao mesmo tempo em palcos diferentes? Bom, imagine não poder ver show nenhum porque tem que ficar na área de imprensa e fazer tipo 35 entrevistas num mesmo dia. Dica: Não é como se você estivesse curtindo a vida com astros da música, porque astros da música não querem repórteres por perto. Mas o que me tirava do sério mesmo, era ter que fazer perguntas imbecis para pessoas incríveis. Uma vez eu tive que perguntar para a Gal Costa se ela tinha visto o filme novo do Batman. A resposta? "Claro que não, meu amor".

4. Você conhece um monte de gente incrível. Diretores, roteiristas, produtores, executivos, artistas de cabelo e make, stylists, operadores de áudio e vídeo, câmeras, repórteres, programadores... as pessoas com quem trabalhei na MTV são as mais legais, criativas, malucas e divertidas que já encontrei. Mas, claro, tem os artistas. Que na maioria das vezes são tão profissionais e gentis quanto você espera, tipo o Jack White. E daí tem a banda indie que finge que não está afim de falar com você, o vocalista energético que não consegue parar de falar, o rapper que quer discutir Hobsbawm no meio do papo. Ah, e tem o Julian Casablancas.

5. É uma experiência que destrói o ego. Você está sendo julgado o tempo todo. Tudo bem, vem no pacote. Mas não estou falando sobre um fã de Lady Gaga reclamando de uma informação errada ou de escorregar no inglês. Isso a gente tira de letra. O problema é o colega que rouba sua ideia. O diretor que não comunica o que quer. O cabeleireiro que secretamente te odeia. E o focus groups, onde a audiência é convidada a dar suas opiniões mais fortes e sinceras sobre suas performances no vídeo. E daí tem o air-check, jargão para a ocasião em que a diretoria se reúne para analisar o apresentador. Imagine ouvir que você "parece velha", que sua imagem no vídeo "é arrogante", que você "jamais deveria usar mini-saia". É preciso muita alto-estima.

6. É um trabalho duro. Tá, apresentar videoclipes não é que nem ensinar física quântica. Mas te desafio a fazer um bom trabalho tendo que entrevistar um músico japonês que não está afim de falar com você, enquanto rola um show de EDM no fundo, com adolescentes fazendo a dança do siri e seu diretor esperando você falar alguma coisa espirituosa pra câmera. Ao vivo. Faz você desenvolver todo um respeito para com os profissionais que trabalham em frente as câmeras. Âncora de telejornal noturno ao vivo. Foda. Gente capaz de despertar emoções com um texto decorado? Incrível. Correspondentes de guerra narrando os acontecimentos direto da linha de fogo? Sobrehumano.

7. A galera se importa mesmo com televisão. Nada faz frente à TV quando estamos falando de repercussão. Você pode escrever um best-seller, ter um canal super famoso no YouTube, falar no rádio todos os dias pra milhares de pessoas, mas o que faz sua tia levantar do sofá e telefonar gritando "é você!" é uma aparição na telinha. Gosto desse exemplo: uma vez uma reportagem minha foi capa da Folha de domingo. Meia página. Fiquei super orgulhosa e liguei pros meus avós pra eles verem. Mas o que eles querias saber? Se eu ia voltar para  TV, é claro.

8. É muito divertido. Minha primeira noite do meu primeiro trabalho na gringa (a cobertura do festival texano SXSW) acabou comigo dormindo debaixo da mesa de um club de strip-tease em Austin esperando o show desse cara aqui acabar. Eu não dormia hà 36 horas. Mas o melhor foi minha última noite como VJ. Em setembro de 2013, quando a emissora fechou. O canal ficou no ar ao vivo durante dez horas com o prédio aberto para convidados, músicos, fãs, ex-VJs e funcionários. Câmeras estavam ligadas e transmitindo em todos os estúdios e andares. A conta do twitter ficou disponível pra todo mundo contar o que estava acontecendo. Num dado momento o corpo de bombeiros tentou colocar todo mundo pra fora, sem sucesso. Álcool foi bebido, ácido foi consumido, pessoas dançaram nas escadas e estúdios e todo mundo gritou, chorou, se abraçou e celebrou. Quando acabou, ficou todo mundo na rua até clarear.

Foi a noite mais lega da história da televisão.











You may also like

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.